17 junho 2009 

Espero que chova no meu funeral.

Espero que chova no meu funeral. A chuva ajuda lágrimas a sair e disfarça os rostos secos. Detesto funerais sem chuva, não parecem legítimos. Nada mais triste para um morto que ser enterrado em um dia ensolarado, podiam muito bem enterrar um caixão vazio que não haveria diferença. Não que eu queira que todos derramem rios quando eu morrer, ou anseie pelo dia fatídico, longe disso. É simplesmente que fui a alguns enterros na minha vida e bem, em dias ensolarados, não é a mesma coisa. É como se faltasse algo. Como se faltasse um morto. Sinto que quando é em um dia chuvoso é mais fácil por tudo pra fora e depois superar a perda. Se não, sei lá, todos os outros dias é como se o morto nunca tivesse morrido. A mente apaga, esquece, lembra somente quando lhe convém, quando se quer abraçar o defunto, dizer-lhe algo, fica aquela coisa: ah é, não está mais aqui. Todos os sentimentos continuam voltando de tempos em tempos, todas as sensações ruins de perder alguém, toda a angústia de não poder falar todas as coisas que sempre, sempre, ficam não-ditas. Tem tantas frases não-ditas que seriam tão lindas se fossem simplesmente ditas. Aquele buraco que nunca se sabe do que é até lembrar que tinha alguém preenchendo ele antes.

Queria ter te perdido num dia chuvoso.