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17 janeiro 2006 

Cochilo

Ele voltava do trabalho, um emprego de meio turno em uma locadora de vídeo que usava para pagar a faculdade. Estava no terceiro semestre de botânica, e no ônibus. Preocupado com um trabalho sobre a germinação das pteridófitas em estufas que ele tinha que entregar na sexta-feira. Faltavam dois dias, e ele prestava pouca atenção no ambiente ao seu redor, principalmente por estar cansado da rotina trabalho-faculdade. Foi quando ela entrou.
Morena, de pele e cabelo, não era muito alta, tampouco era baixa. Saia jeans e pernas bem encorpadas. Uma blusinha, sem magas, colada ao corpo. Busto redondo, simetria perfeita. Ombros não largos, caminhar intimidante, braços formosos. E claro, a preferência nacional se acentuava, sem ser desproporcional ao resto ou tornar-se excesso. Um tesão. Quando ela se virou depois de passar pela roleta ele pode ver sua face. Por um segundo, esqueceu-se do desejo animal de possuí-la e viu-se consumido por um fogo morno de amor. Pouco depois, obviamente, o instinto voltou e ele uniu o útil ao agradável. Passaria com ela o resto da vida se lhe fosse pedido.
No entanto, era um rapaz tímido. Ela tinha que dar o primeiro passo, e ele logo perdeu as esperanças. Ele, magrelo, estranho e com uma pasta onde se lia “botânica”, não via chances. Ainda mais com o ônibus lotado e aquela gorda sentada ao lado. Voltou a sua ocupação anterior, entediar-se, após ver ela parada de pé com alguma dificuldade ao lado de um banco mais à frente. Logo, entregue ao marasmo de olhar o mesmo caminho que sempre fazia para voltar da locadora, cochilou. Por pouco tempo, aquelas piscadelas de cansaço que as pessoas dão no ônibus e acordam quando suas cabeças começam a pender fingindo que nada aconteceu e voltando a fechar os olhos em seguida. Pois é, acontece que ele não acordou quando sua cabeça começou a pender para frente, mas instantes depois. Não com o movimento, como seria de costume, mas com a parada brusca dele ao encontro da cabeça com o encosto do banco da frente. Ouviu uma risada abafada ao lado dele, estava pronto pra dar o seu melhor olhar fulminante e dizer um bocado de desaforos para aquela obesa nojenta de cem ou mais quilos, mas acabou estático diante da visão do rosto para o qual jurara amor eterno, em segredo, pouco antes.
Pouco? Quanto ele tinha dormido? Ela esboçou um sorriso encabulado por ter rido da situação dele. Ele ainda mais corado retribuiu o sorriso, percebendo com isso o pouco de baba que se juntara num dos cantos da boca. Mais encabulado ainda se limpou, e olhou rápido para a janela atrás dela. Não tinha dormido muito não, ainda restava um longo caminho pela frente. Não podia descer e esperar outro ônibus, pois demoraria uma eternidade, tampouco descer ali e ir caminhando, por mesma razão. O jeito era encarar. Ele esperava que ela não conversasse com ele, olhasse para o outro lado, e ele faria o mesmo, e estava resolvido, ela nunca saberia que ele era tímido. “Acontece né?” Ela disse. E assim estava dado o primeiro passo.
Timidamente (como tinha vergonha de ser tímido!) ele respondeu que sim. Ela perguntou se ele fazia botânica, por causa da pasta. Ele afirmou e recebeu, com surpresa, o interesse que ela demonstrou pela área. Ela estava cursando psicologia, e estava ainda nos primeiros semestres. Ele sempre gostou de psicologia, ou pelo menos sempre a partir daquele momento. Citou tudo que sabia de filmes considerados “psicológicos”, ou qualquer coisa assim. Ela adorava filmes, e para alguma coisa serviu a maldita experiência na locadora. Ela explicou-lhe suas ambições como psicóloga, sobre viagem que queria fazer à França para o mestrado. Ele morava descendo no fim da linha do ônibus, ela, uma parada antes. Despediram-se, ela desceu. Ele desceu, foi pra casa.
Bateu com a mão forte na testa e tirou o sorriso dos lábios quando chegara ao seu pequeno prédio. O telefone! Ele não havia pedido o telefone dela. Ainda demorou a dormir, pensando naquele encontro. Talvez a visse amanhã...

Acho que a moça só era gentil.
Acho que ele jura amor eterno facilmente. (homens são assim)
Ela como futura psicóloga e mulher deve conhecer bem os meninos.
Foi ótimo ele não ter pedido o tel, pq mesmo que ela desse à ele, não iria querer q ele ligasse.


(interpretação de texto não é meu forte, tampouco a mente humana.)

Bonitinho esse texto.
To torcendo para que passes no vestibularis.

Rude!










Sim, a voz do amarante...Eu ví o dvd do mauri é mt fofo. Por isso botei.

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