O sorriso de Júlia
Jorge usava um uniforme antigo que fora do seu irmão, e uma calça de moleton que sua mãe já havia costurado os joelhos umas cinquenta vezes. A mãe de Jorge é faxineira do colégio, e o pai dele é açogueiro. Eu sempre via ele com a mãe no recreio, ela trazia uma merendeira pra ele. Nunca mais vi os dois juntos depois que Pedro e Arthur chegaram, Jorge só anda com eles. E hoje ele descia as escadas com eles no recreio.
Dona Iolanda, mãe de Jorge, saiu do elevador no exato momento que o filho dela e seus novos amigos se dirigiam à fila. Ela parou ao lado da fila e abriu um sorriso para Jorge, estendendo-lhe a marendeira vermelha. Ele olhou nos olhos dela com raiva e desviou o olhar, ficando de costas para ela. Eu sabia que ela era mãe do Jorge, quase todo colégio sabia, menos aqueles dois metidos do Pedro Mendel e do Arthur de Souza. Eu vi os olhos da Dona Iolanda ficarem vermelhos. A mulher recolheu o braço com a merendeira e correu para o banheiro aos prantos. Pedro e Arthur, que elém de metidos eram tapados, não notaram a cena toda e achamram estranho uma faxineira correr chorando para o banheiro com uma merendeira vermelha.
Eu fiquei furioso com aquilo. Os dois metidos não tinham culpa de ser metidos, mas Jorge estava sendo um babaca. Eu ia sair do meu lugar na fila e dizer umas verdades para ele, ia dizer que ele era um idiota e que não podia fazer uma coisa daquelas com a mãe dele. Eu estava indo lá para dar um murro na cara de Jorge quando senti a mão de Júlia no meu ombro.
-E você Lucas, o que vai querer?- ela disse.
-Um sonho de doce de leite, por favor.- respondi.
Ela sorriu para mim e fomos lanchar de mãos dadas. Acho que ela gosta de mim.