Cinza
Levantou no susto, a barata correu também no susto. Ele a esmagou com a sola do sapato preto ainda molhado, ainda meio tonto. Nojo. Nojo de baratas, sempre teve, nunca ia deixar de ter. Sentou no vaso com a tampa abaixada, deu outra tragada. Pegou o papel higiênico, limpou os restos mortais do monstro de seu sapato, soltou a fumaça, limpou o chão com outro pedaço, jogou ambos no lixo. Levantou-se, lavou o rosto com a mão direita, segurava o cigarro com a outra, era canhoto. Molhou todo o chão do banheiro. Tirou os sapatos e as calças, jogando-os no quarto escuro. Molhou-se mais uma vez, estava molhado da chuva, sentia muito calor. Foi para o quarto.
Tropeçou nos sapatos ao tentar achar o interruptor, achou-o, o quarto já não era mais escuro. Uma cadeira e uma mesa com papéis e a velha máquina de escrever num canto, coberta de pó, será que ainda funcionava?, pensou. Provavelmente não, não escrevia nada há anos, perdera os sonhos juvenis de ter algum futuro literário. Uma cômoda com quatro gavetas e um rádio antigo AM/FM em cima. Um cabideiro onde pendurava em cabides algumas poucas camisas (sempre gostou mais de camisetas, lhe davam um ar mais jovem) e um colchão de casal estendido no chão. Esse era o quarto. Acabou o cigarro de pé ao lado do interruptor, jogou o toco num canto cheio de tocos, o qual ele juntava uma vez por mês ou algo assim. Deitou-se na cama de lençóis desarrumados trajando apenas a roupa de baixo. Sentiu-se tonto de novo, enjoado, e com sede. Lembrou da cerveja esquecida na cozinha, levantou-se e quase caiu de novo, mas conseguiu manter-se de pé e foi pegar a cerveja. Tomou um gole, ainda tonto, ainda com sede, mais enjoado. Acabou a cerveja e sentiu vontade de vomitar de novo. Tornou ao banheiro.
Lavou a cara mais uma vez. Estava muito calor aquela noite. Não queria vomitar, sentia nojo, sua barriga doía muito com as contrações, o gosto era horrível. Pôs o dedo na boca e forçou o vômito. Treze minutos vomitando. Detestava aquilo, não queria vomitar. Nojo, barriga doendo, gosto ruim. Lavou-se e deu a descarga, lavou-se novamente. Foi até as calças e pegou mais um cigarro. Acendeu, deitou na cama revirada de lençóis suados, fumou até o fim deixando as cinzas caírem no chão. Adormeceu.
Realmente cinza.
Esse tipo de texto decadente sempre me soa a 'estou chegando de uma festa' principalmente a parte de mijar ou vomitar.
dois atos que eu realmente detesto e detesto pensar que ainda vou fazer MUITO na vida.
adoro como tu descreve os ambientes.
...tu escreveu cabiNeiro ali.
Assim falou Gustavo | segunda-feira, março 05, 2007
Cabineiro é o empregado que conduz o elevador. No original ele estava ali parado no canto do quarto segurando cabides.
Oquei, foi erro de digitação. Já consertado.
Assim falou Chando, Lucas | segunda-feira, março 05, 2007
Eu gosto muito dos teus textos. Gosto da descrição dos ambientes MESMO - Gusta tem razão. Só me agonia as palavras repetitivas como "de novo de novo de novo". As intencionais eu gosto, porque tb faço, mas as despercebidas me agoniam. Nhé.
Saudades, aproveitando a passagem...
Assim falou juliana | segunda-feira, abril 09, 2007
cara eu falei que eu não gosto de mijar ano passado quando comentei aqui?
na boa. eu adoro.
é tri bom.
vomitar sim, eu detesto. comer também é um lance que não curto.
mas mijar é quase orgasmo. ainda mais pra quem não tem bexiga.
e porra. todo mundo comentou babando muito ovo do ventildor lá. gosto bem mais desse aqui. mesmo.
gosto mais do que todos do libertação, mas entre os dois esse gosto mais.
mas porra, incrível como a gente mudou. eu tive percepções diferentes e faria comentários diferentes agora. e certo que tu escreveria diferente agora.
Assim falou Gustavo | terça-feira, agosto 19, 2008