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12 maio 2006 

Ato dois: Animais

Não demorou muito mais a escurecer. Inverno. Ao cair da noite, o velho homem-animal deliciou-se ao comer um prato feito, ali perto. Pediu para levar, tudo, e pôde comer aos poucos longe do bar, onde não era bem quisto. Três bares enxotaram-no antes, como animal. Esse tinha um bom dono até, deixou ele comer se pagasse antes e levasse as cosias para comer bem longe dali. Como animal.

Também como animal ele comeu, sem talheres, muito aos poucos. Também pudera, com o estômago do tamanho de uma ervilha, não poderia empanturrar-se. Nem queria, sabia ele que se seu estômago aumentasse de tamanho a fome também aumentaria, e ele devi estar preparado para os dias depois que o dinheiro do homem que comeu areia lhe dera acabar. Ele pode ter pensado em tudo isso, ou pode ter apenas seguido o instinto e guardado para mais tarde. Animal, apesar de homem.
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Como todos sabem, existe na natureza uma cadeia. Alguém é predador de alguém, sempre. Conforme a noite ia e o frio chegava, o habitat do homem-animal era preenchido por tipos estranhos de predadores. Eles eram chamados: Jovens. Digo estranho porque eles têm caças variáveis, conforme a situação.

Os jovens muitas vezes são predadores de outros jovens. Eles caçam uns aos outros, de maneira que só os fortes conseguem perpetuar a espécie. Ou mais burros. Mas mais freqüentemente eles são predadores deles próprios. Nesse caso, o fim de um jovem acontece por ele acabar com sua vida aos poucos, ou rapidamente, através de uma de um processo autodestrutivo. Mas, além disso, esses predadores estranhos às vezes escolhem outras presas. Esse era um desses dias.

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Um grupo de jovens caminha pela rua onde se encontra o homem-animal e seu casaco azul-oliva. Eles percebem a presa depois que está já os havia percebido, enquanto cantarolavam hinos de louvor ao vinho. Arisco, o vestido de azul-oliva está quieto em sua parede. Observa com o canto dos olhos jovens que estão vestidos para a caça, todos de preto. Ao notarem ele com um bom sobretudo, começam a aproximação. O que parece ser o líder do bando vocifera: Bem o que temos aqui, bonito casaco cara. O desumano há muito sem receber um elogio, surpreende-se, e acena a cabeça levemente quase sorrindo. Posso ver? Arisco, encolhe-se o animal. Um olhar maligno apossasse do líder.

Num piscar o bando, seis ao todo, está desprovendo o animal de seu casaco e deixando-o exposto. Com o sobretudo vestido, um deles olha para as embalagens de alumínio, duas, no chão perto animal. Isso é sua comida? Chutes espalham pedaços de carne, salada e arroz pela calçada. Uma lágrima escorre pela pele grossa do animal, que tenta impedir e é rechaçado a pancadas, como quando lhe tiraram o azul-oliva. E então os predadores sentem o prazer. Batem mais e mais. Param apenas quando o animal, sem forças, sangra na calçada a beira de um colapso.

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Os pássaros cantavam quando o sol baixo acordou o quase morto. Sem êxito, tentou comer um pouco do que havia sobrado pelo chão, arrastando-se e tentando enfiar comida a comida na boca. Quase nada comeu. A dor não lhe permitia mastigar direito, as baratas e os ratos, bem como os cachorros de rua e outros animais carniceiros haviam levado quase tudo do que fora espalhado. E ele ainda sangrava...

Bonito texto!!


A Clocwork Orange!

Isso doeu. Mesmo...
Me lembrou uma cena. Saindo do meta, os guris encontraram um velho, mendigo também, todo ensanguentado na esquina da riachuelo.

Ainda bem que não o ví. ;~

Concordo com o gustavo: a clocwork orange. =T

bjo.

Triste e verdadeiro.
O ser humano pode ser bem cruel, quando quer.

Por isso, prefiro os cães.

:)

realmente bom. mas muito bom mesmo.

tem um peso existencial muito forte nisso, cara. tá bem legal.

mas... existe azul-oliva?

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