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16 fevereiro 2006 

O divorcio - Parte 2 de 3

Ela remexia os livros soltos por cima da mesa. Ele girava o gelo no copo com o dedo, e olhava a bunda dela. Serviu outro copo. Ela encontrou lia as capas dos livros com mais atenção.
-Nossa Roberto, você realmente está lendo isso?
-É, quem sabe.
-E esse aqui? Você ainda não acabou? É um clássico!
-É bonzinho. Meio parado.
-Como assim “bonzinho”? Ele é fantástico! É um clássico!
-Foda-se que é um clássico.
Ela deixou de lado os livros de lado e viu um pouco de sangue no chão.
-Roberto, o que é isso?
-Sangue.
Ela fez uma cara de quem diz “você sabe que não foi isso que eu quis dizer seu idiota” ou algo parecido. Ele respondeu:
-Oquei, e está coagulado. Feliz?
-O que aconteceu?
-Eu virei adolescente rebelde sem calça por um dia e cortei os pulsos.
-Sério?
-Claro que não! Pelo amor de Sócrates, você ainda leva sério essas bobagens!
-E você ainda fala desse Sócrates como se fosse Deus.
-Ele era muito mais filho de Deus do que aquele cabeludo metido a bom cristão.
-Certo, agora o que aconteceu?
-Bom, uma garrafa quebrou uns tempos atrás, e tinha um caco grande ai. E eu nunca uso sapatos.
-Certo, deixe-me ver o seu pé.
-Não foi nada.
-Dá cá a pata!
Ela empurrou-o e ele caiu sentado na cadeira que estava atrás. A bebida do copo sacudiu, mas não chegou a cair, já não estava mais cheio o suficiente.
-Uh, isso aqui está feio.
-Eu já disse que não foi nada.
-Tem um caco de vidro quebrado ai dentro. A quanto tempo você disse que foi isso?
-Eu não disse.
-...
-Três dias.
-Três dias!
-É, mas não ta doendo.
-Claro, você está sempre anestesiado.
-Por que você ainda faz isso?
-É meu dever como enfermeira querido. Agora, vai doer um pouco.
Ela enfiou a pinça no corte inflamado. Saiu um pouco de pus e Roberto fez uma cara de quem não gostou. Ela alcançou o vidro, era grande. Triangular. Começou a puxar, Roberto gritou. Ela puxou mais, ele agarrou a garrafa de vodka de cima da mesa e bebeu no gargalo enquanto apertava com a outra mão a cadeira. O copo caíra no chão, inteiro.
Quando acabou ela tirou a garrafa da mão dele e usou para desinfetar, com um pouco de algodão que ela trazia na bolsa para retirar o esmalte. Ela falou.
-Pronto, agora vá tomar um banho, depois eu limpo isso de novo.
Ele entrou no chuveiro, de camisa e tudo. O sangue escorreu com água para o ralo. Ele lavou-se com sabão. Ela Juntou os cacos todos e limpou o sangue. Encheu o copo dele e deixou perto da saída do banheiro. Arrumou as coisas que estavam na cama e trocou os lençóis. Arrumou os livros todos nas prateleiras. Em ordem alfabética. Obsessiva, compulsiva.

Ela gosta dele, sim. Se não gostasse, ia deixar o pé dele cair de podre.

Mas, esse cara é um traste, não?

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